quinta-feira, 31 de maio de 2012

Careca vai, careca vem

Eu estou ficando careca novamente!

Por que novamente?

Meu tratamento "básico" seriam 8 sessões de quimio (4 vermelhas e 4 brancas - os iniciados entende essas terminologias...) seguidas de umas 25 sessões radioterapia. Fui muito bem nas 2 primeiras sessões de quimio, não senti praticamente nada. A 3ª foi sofrida. Na 4ª, eu fiquei uma semana agarrada ao vaso sanitário, nada parava no meu estômago. Eu havia tido uma experiência negativa na "emergência do HL" (não é uma emergência de fato, é um atendimento 24hs somente para os que estão em tratamento no HL) e não queria voltar lá de maneira alguma, preferia ficar passando mal em casa. E fiquei! 

O resultado da minha teimosia foi um certo trauma. Eu não estava preparada para começar o outro módulo de quimio (as 4 brancas), então, perguntei a médica se poderia "descansar" fazendo radio. Ela autorizou. Nisso, meu cabelo, que havia sido raspado no final do ano, voltou a crescer. Agora, recomeçando a quimio, ele está caindo novamente!

Ao contrário de todos os depoimentos que li até hoje, não sofri horrores por perder o cabelo. Não sofri nada. Minha mãe sofreu ... e chorou... Ela tem sofrido e chorado com tudo, coitada, bem mais que eu. Para aliviar a tensão eu a chamo de mamãe-snif , como referência ao funga-funga do nariz choroso. 

Eu estava curiosa para saber como eu ficaria com um "corte" tão radical e, principalmente, queria me livrar daquele monte de cabelos caindo por todas as partes, acordar com a cama coberta de cabelos me dava  nojo e náuseas. 

Primeiro raspei bem curtinho, fiz um look alternativo e fui para o inglês. Logo na primeira experiência levei 2 cantadas/elogios. "Nossa, gostei!", disse um deles num misto de surpresa e admiração. "Eu também!", pensei sobre o comentário espontâneo que o homem havia feito. Nesse momento tive a certeza de que a forma como as pessoas te veem está extremamente ligada a maneira como você se vê e se coloca para o mundo. 

Alguns dias depois, meu cabelo estava tão esburacado que eu precisei passar a lâmina, ainda assim estava tranquila, já sabia que isso seria necessário, só estava adiando, me adaptando. Nunca pensei em usar peruca. Assumi a careca livre, leve e solta no verão infernal carioca. Ou protegia do sol com um chapéu, o que se fez muito necessário.


Durante uma sessão de quimio ouvi duas pacientes conversando, uma dizia para outra que o pior momento havia sido quando ficou sabendo que perderia o cabelo. Eu, careca, comentei baixinho com a enfermeira que isso não havia me balado, ela respondeu com simpatia: "Ah, mas você é bonita de qualquer forma!" Adorei o elogio, claro, mas pensava: "Depois que você tira uma mama, perder o cabelo temporariamente é fichinha."


obs: Pra não dizerem que sou tão Polianna assim, acho que deveria haver uma hierarquia na queda dos pelos. Começar pela virilha e axilas, depois pernas e braços e, finalmente, cabeça e sobrancelhas (se possível evitar essas partes). Mas o que acontece é exatamente o oposto! Afffiiii

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Consulta remarcada finalmente

Hoje vou ao hospital para a consulta que não tive semana passa (preciso dormir, do contrário amanhã estarei lesada!!!). Minha onco, mesmo esforçada e dedicada, continua sendo um ser humano e foi parar no pronto socorro com o filho. Ela está sempre lá, meia hora antes do seu horário e já começa a atender, segue direto até o último paciente, o que costuma ser beeeeeeeeem depois do horário do almoço. Quando eu vi a secretária chegando pontualmente (o que normalmente não acontece) e nada da médica, comecei a desconfiar... Bem, a secretária deu a notícia e ficou de ligar para reagendar a consulta. Fui pra casa frustrada e fiquei esperando.

Na verdade, aguardei um dia e passei outros 2 tentando me comunicar. Os casos na oncologia são graves, as pessoas estão em tratamento, ninguém demora tanto para resolver quando encaixar os pacientes... mas não tive sucesso. Ocupado, ocupado, ocupado. Tiraram do gancho, concluí. Com tanto trabalho elas não poderiam estar agarradas ao aparelho. Liguei para a ouvidoria na esperança de que rolasse uma boa vontade e alguém desse um pulo até a onco para dar uma puxada de orelha cínica "olha, o telefone aqui está quebrado? Não se consegue falar..." Mas a funcionária resolveu apenas ligar para o mesmo número que eu já estava ligando e o fantástico resultado foi: ocupado!

Decidi ligar para a médica mesmo, detesto perturbar médico no celular, até porque sei que não sou sua única paciente (bem longe disso), então, evito ao máximo. Além disso, marcar, remarcar, agendar consultas é função da secretária, sobrecarregar ainda mais a médica é sacanagem. De qualquer forma, meu tratamento é sério e importante, não posso resolver os problemas do (mal) funcionarismo público, mas devo e posso brigar até o final pela minha saúde. Lamentei e empurrei o telefone para minha mãe kkkk Nessas horas mãe tem até mais licença para ser pentelha que a gente... E, a essa altura, eu estava tão irritada com o sistema que, se a médica fosse um pouquinho grosseira, eu seria muuuuuito mal educada. Mas ela foi simpática, disse que estava preocupada comigo e pediu que eu fosse ao hospital hoje.

Continuei irritada, desejei profundamente ter nascido nas Suiça (naquela dos nossos sonhos, onde tudo  ocorre com perfeição) ando extremamente cansada desses entraves do SUS. Muitos médicos e funcionários fazem o máximo pelos pacientes e pelo sucesso de seus tratamentos (nem todos...), o sistema, por sua vez, não facilita muito. Foi uma lenha para que eu conseguisse certos exames, tive problemas com o encaminhamento para a radio e minha tia foi ainda mais prejudicada em sua cirurgia... Mas agora preciso realmente dormir, volto depois pra contar cada uma dessas histórias.


terça-feira, 29 de maio de 2012

O diagnóstico

JUNHO/2011

Hoje é 5ª feira, 3ª eu peguei a biópsia no hospital e levei direto aos médicos. Pensava que ia tirar os pontos e dar um abraço de Adeus na equipe que me atendeu com tanto carinho. Não foi bem assim...

Recebi a notícia, daquele jeito que os médicos fazem, só sabe quem já recebeu esse tipo notícia. A porrada é forte e a gente fica meio tonto. Não fiz grandes perguntas. O médico foca - uma coisa de cada vez - não aprofunda, não diz muito. O que é bom, você ainda está processando.

Fiquei com aquela notícia e durante os dias as perguntas foram aumentando. Mas não quis entrar na internet e verificar os termos, gravidade ou seja lá o que for. Até então o doutor já havia me dito o bastante, dose grande pra ser digerida.

Hoje, não sei porquê, me deu vontade de verificar o que significavam aqueles termos. Grau III, sei lá, não devia ser muito bom. Atirei no que vi, acertei no que não vi.

Ainda vou conversar com a equipe, fazer os exames, ver como esse bichinho tá dentro de mim e que estrago ele fez. Cada caso é um caso. Mas encontrei o depoimento de uma mulher que teve exatamente o mesmo que eu (na mesma mama inclusive!). Uma história com final feliz!

A minha também será!!!

Boas vindas

Carcinoma ductal infiltrante, grau histológico III, mama esquerda. Esse era o meu bicho e o bicho era eu, estranho, né? Mas essa reflexão fica pra outra hora...

Há um ano atrás eu recebi esse diagnóstico. Foi um baque, mas resolvi manter a calma e acreditar no tratamento e que tudo daria certo, porque notei que meu desespero desequilibraria ainda mais minha família. Na verdade, eu realmente sentia uma força e estava calma para passar pelo tratamento exaustivo que a doença exige. Agora, passado quase um ano, bateu uma insegurança em função de algumas complicações.  Isso tem cura? Tem tratamento? Corro o risco de passar o resto da vida entrando e saindo do hospital para fazer sessões de quimioterapia? Todos esses medos e o prolongamento indeterminado do tratamento quando eu já calculava estar chegando ao fim minaram a minha calma e mandaram minha força ralo a baixo.

Foi nesse contexto que resolvi colocar o site no ar e, assim, compartilhar meus sentimentos e experiências.