quarta-feira, 11 de julho de 2012

Fim de Semana na Fossa

Na 5ª feira, 21/06, fiz quimio, na 6ª, fiquei menstruada, no sábado, completei 5 anos de casada. Resultado, passei o fim de semana uma pilha. 

Ano passado estava planejando fazer um festão para comemorar nossos 4 anos de casamento. Ok, nem ia ter dinheiro pra fazer um "festão", mas um almoço dançante para família já seria bem satisfatório. Vinha com aquilo em mente, sonhando em onde e como seria. No dia, porém, eu estava no hospital, fazendo a mastectomia. "Tudo bem", eu pensava, "5 é um número bem mais bonitinho que 4". 

Só que eu já havia refletido sobre todo o significado do número 4. Quatro são as estações do ano (outono, inverno, primavera, verão), são elementos da natureza (água, terra, fogo e ar), os pontos cardeais (norte, sul, leste, oeste), as fases da lua (nova, crescente, cheia e minguante) ... Um número de completar ciclos, de fechar etapas. E nós tínhamos muitas etapas para encerrar! Eu só não consegui notar que, num clico, quando algo termina, outro está por iniciar. No número 4, no nosso quarto ano de casados, ao contrário do que eu imaginava, as dificuldades não estavam terminando, estavam recomeçando...

Ah, mas no 5º ano (esse ano) seria diferente, eu estaria terminando meu tratamento e poderíamos comemorar em grande estilo! Ledo engano... As complicações apareceram e com elas a necessidade de pelo menos mais 4 sessões de quimio (e espero que bastem!).

Então, resumindo, porque já me prolonguei demais... Quando, ao menos nos meus sonhos, eu deveria estar nas Bahamas ou em uma farra familiar, dividindo a felicidade dos meus 5 anos de casada, eu estava em casa, lutando contra as mazelas da quimioterapia, sem poder ir a lugares públicos, sem mal conseguir sair da cama, tendo como cereja do bolo a impaciência de uma menstruação recém chegada!


Foi nesse momento que o destino me presenteou com dois textos que me ajudaram a lidar com as minhas debilidades físicas e psíquicas.


Recebi por e-mail, do Navigating Cancer, um depoimento muito interessante que me mostrou como a interpretação que a gente dá à situação pela qual passamos pode simplesmente transformá-la.


original:
"Just recently I heard a term that is much more tolerable than incurable. Chronic cancer was the term I heard. Incurable, at least for me at first, gave me the thought that I was going to die very soon. But that wasn’t the case. Chronic means that it is ongoing and can be treated, even if it isn’t cured. Chronic means that there are options out there that can help you keep your cancer at bay. Chronic means that you can live a full life, even if it isn’t as easy as before you had cancer. There are many chronic diseases out there like diabetes, arthritis and fibromyalgia. Cancer can be one of them."
tradução:
"Recentemente ouvi um termo que é muito mais tolerável do que incurável. "Câncer crônico" foi o termo que ouvi. Incurável, pelo menos para mim, em primeiro lugar, deu-me o pensamento de que eu iria morrer muito em breve. Mas esse não era o caso. Crônico significa que é contínuo e pode ser tratado, mesmo que não seja curado. Crônico significa que existem opções que podem ajudar você a manter seu câncer controlado. Crônico significa que você pode viver uma vida plena, mesmo que não seja tão fácil quanto antes. Existem muitas doenças crônicas lá fora, como diabetes, artrite e fibromialgia. O câncer pode ser uma delas."

Chorei ao ler o depoimento, chorei como um desabafo de tanta angústia (é duro ter uma doença crônica). Mas logo comecei a pensar no depoimento. Diabetes é uma doença crônica. Eu tenho uma prima querida com diabetes desde de criança. Mesmo com todas as dificuldades ela vive um vida plena, como sugere a narradora do texto acima. Assim seria comigo também!


detalhe da capa do livro Solar da Fossa

Tudo muito bonito, mas eu ainda precisava lidar com a insônia, a fraqueza, a impossibilidade de fazer qualquer coisa. Foi então que descobri, na estante da casa dos meus sogros, um exemplar de "Solar da Fossa". Uma delícia de livro que trata de uma pensão que existia nas décadas de 1960/70 onde hoje é o Rio Sul e que abrigou grandes nomes da cultura nacional.


Só com esse livro consegui me acalmar e passar as intermináveis horas de repouso que a quimio estava exigindo do meu corpo. Assim, comecei e terminei meu fim de semana na fossa!

obs1:Não posso deixar de dizer (e agradecer) que uma amiga querida também me ajudou a passar, com alegria (e fofocas ;), por esse momento conturbado, mesmo sem saber. Não é, Cristiane?
obs2: Amanhã sigo para minha última sessão de químio referente ao protocolo. Mais uma etapa cumprida! (depois mais quatro e... pára, respira, uma coisa de cada vez!)

5 comentários:

  1. Minha querida, nao é necessário saber tudo. O que temos que saber é que nosso reencontro nao foi por acaso e que estamos juntas para qualquer parada. Estou muito orgulhosa do seu blog, dos seus projetos, do seu poder. Encare cada sessao de quimio como uma onda do mar. Fura ela, Cris!!! Daqui a pouco voce sai do mar com a sensacao de vitoria e tranquilidade. Assim será, assim tenho rezado. Um beijo no coracao e nao esqueca estamos esperando vc e o Rafa...Vou botar muito vinho portugues para gelar para comemorarmos 4, 5, 8, 10,15, 60...20 mil anos (rs) de uniao!!! Vambora!!!!

    ResponderExcluir
  2. Cris, vc me emociona todas as vezes que leio vc. Nossa seu dom com as palavras é incrível. Tenha fé, eu sei que vc tem. Viva com intensidade todos os dias. É assim que vivemos todos, querida. A vida apesar de tudo vale super a pena.
    beijos

    Admiro vc muito e a cada dia mais.
    Mara

    ResponderExcluir
  3. Cris,vc sabe que falou em festa já fico animada.Fica triste não,vamos comemorar logo,logo.
    Com tanta gente bacana dando força e rezando a vitória não demora.
    Um beijo,minha linda.

    ResponderExcluir
  4. Obrigada, queridas!
    kitty, vamos apresentar esses tugas logo! Vamos marcar uma confraternização.
    Mara, que elogio! Brigadinha.
    Janete, vamos botar pra quebrar na próxima oportunidade!
    bjs

    ResponderExcluir
  5. Pois é....daqui a pouco eles se conhecem em São Januário e aí perde a graça kkkk!!! Eu gostei muito do Rafa! Tá aprovado. Aliás, como se eu precisasse aprovar algo, né?! Eu me acho, né não?!rs, beijos

    ResponderExcluir