quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Quem é o vilão?

A gente tenta ficar bem porque é importante, porque não quer preocupar a família e os amigos, porque entrar no ciclo virtuoso do bom humor faz bem ao corpo e ao espírito. Tudo muito bonito, mas fica complicado (eufemismo, tá?!) se você, além de ter que lidar com uma realidade do ca**te, tem que combater essa irritabilidade que vem dos remédios.

Corticóide ou corticosteróide (popularmente chamado de cortisona) é um remedinho porreta antiinflamatório, antiexsudativo (que impede a transpiração de substâncias do corpo), antialérgico e bactericida muito importante para o ser humano que vive radicalmente no limite - limite da imunidade (leucóticos a 3.2 uhuuuuuuuuuuuuuuuu - medo!). Mas ele traz uma série de efeitos colaterais, dentre eles as alterações de humor. 

Pior que dessa vez parece que minha médica caprichou no corticóide! Fiquei super inchada, ansiosa, com uma fome animal e muito muito muito irritada. E, sabe como é, enquanto eu era a Poliana estava todo mundo achando lindo, mas quando baixa o Garoto Enxaqueca a tolerância alheia vai por ralo abaixo. "Nossa, ela foi tão grossa!", "Nossa, por que será que ela está tão irritada?!" Por que será, né?!

Então, eu peço, se eu tenho uma nuvenzinha sobre a minha cabeça soltando raios e trovões, isso não é pessoal. Se eu não respondi com amor a sua pergunta (especialmente quando você me perguntou mais de uma vez), isso também não é pessoal, por favor, entenda! Entenda e mantenha uma distância de segurança kkkkkk (brincadeirinha).

obs: tive 2 semanas de férias do meu tratamento e já estou bem melhor, mais calma, menos inchada e com a apite normal! Louca para ter um grande intervalo nesse tratamento enlouquecedor e poder viver minha vida dentro dos meus parâmetros e não nos efeitos das drogas que tenho que ingerir.


fonte figura: http://www.apsicologa.com/2010/09/mau-humor-cronico-sera-distimia.html


fontes do texto: 
http://blogdalergia.blogspot.com.br/2007/06/corticides-faca-de-dois-gumes.html http://www.abc.med.br/p/296585/conhecendo+melhor+os+corticoides.htm

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Tumor x Humor

Arrumei um novo amiguinho de quimioterapia.  Há algum tempo nós nos encontramos no hospital em dia de sessões e consultas, mas, só depois de passarmos hooooooras conversando a espera do resultado do exame de sangue na última 2ª feira, acabamos descobrindo uma certa afinidade. Ele é muito bom de papo, inteligente e bem humorado.

Hoje estávamos fazendo quimio juntos e ele construiu uma relação linguística que achei bem interessante. "O humor é o contraponto do tumor", disse. "Só com muito humor para combater o tumor." Continuou. E, como professor de português, chamou atenção para o fato de conseguirmos elaborar essa reflexão semântica trocando um único fonema.

Dá-se o nome de fonema ao menor elemento sonoro capaz de estabelecer uma distinção de significado entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção entre os pares de palavras: amor - ator / morro - corro / vento - cento
  
Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua portuguesa que está em sua memória: a imagem acústica que você, como falante de português, guarda de cada um deles. É essa imagem acústica, esse referencial de padrão sonoro, que constitui o fonema. Os fonemas formam os significantes dos signos linguísticos.  (http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono1.php)

Assim acontece com tumor - humor. Mas, segundo meu novo amigo, nesse caso não devemos trabalhar no campo da diferença dos significados, mas da suas semelhanças, ou melhor, da necessidade de relação entre elas. O câncer está em nosso imaginário como algo muito negativo, que nem mesmo deve ser pronunciado "aquela doença". Trabalhar o (bom) humor e autoestima com certeza é vital para o processo de cura e/ou qualidade de vida do paciente.

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Essa questão do humor me fez lembrar de um outro post que escrevi (Cancerland, por Kaylin Andres) sobre o blog de uma americana que tem "cancer is not funny" no endereço e "cancer is hilarious" no cabeçalho. Um pouco de humor ácido é sempre bom kkkkk Adoro kkkkkkk

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sonhando 2013, sonhando sempre


Bisbilhotando coisas que as pessoas postam no FB, achei essa foto, que me fez lembrar dos meus sonhos, meus delírios, chamem como preferir. Sempre achei que me desapeguei mais do que a maioria, que arrisquei mais. Larguei um emprego público, casei com pouco mais de um ano de relacionamento (lembrem-se, no meio desse prazo tem o tempo pros proclames!), me mudei para outro país sem lenço e com documento... 

Depois da doença, comecei a achar que me arrisquei pouco, que no fundo não me desapeguei da minha dependência a falsa sensação pequeno-burguesa de segurança, de ter uma casa, dois filhos e uma aposentadoria privada. Uma vida de propaganda de margarina. Curtia as mudanças, mas sofria com instabilidade. "Ah, meu Deus, e o que vai ser da minha velhice nessa vida errante, nessa profissão de comunicólogo mal-paga (quando era paga)". Aí, cai um raio (ou sobe um raio, vai saber...) que diz " Quem falou que você vai ficar velhinha, sua presunçosa?" Então a gente começa a pensar em tudo que deixou para fazer depois de ter a tão sonhada estabilidade, mas que nem saber de verdade porque deixou pra depois.

Esse "guest bus" me trouxe de volta a lembrança do sonho remoto que eu tinha de comprar um furgão e viajar a costa brasileira, sonho que foi por água abaixo, porque o Brasil é violento, as estradas são terríveis, tudo é exorbitantemente caro. Morando fora a gente vê que existem outras verdades, que muito do que parece longe da nossa realidade (para o bem ou para o mal) é possível até sem grandes esforços.

Em Portugal as estradas são fantásticas, adquirir um veículo é barato, os postos de gasolina têm ótimos serviços e os campings são super-bem-estruturados especialmente para esse tipo de aventureiro. Uma vez, passando em frente a um camping, vi uma família com seu furgão aberto, uma lona sendo feita de varanda e um churrasquinho. Sem bagunça, bem "a la europeia". "Que delícia!", pensei, "Ainda vou ter um desses!". Imagina, viajar a zona do euro na primavera-verão, vendo as paisagens mudarem, praias portuguesas, castelos franceses, vaquinhas holandesas...

Sabe o que essas imagens me fazem pensar? Quem chutou em "tudo que deixei de fazer" está errado! Mesmo com as milhares de limitações que a doença me trouxe, só penso em tudo que ainda posso fazer e que vou fazer correndo! Porque, mesmo pra quem acredita em outras vidas, essa trip é única e não estou dispensando nem o amendoinzinho que a cia aérea dá na classe econômica. Quero tudo de que tenho direito! E quero o quanto antes!

Para vocês deixo o desejo de que se desapeguem, que curtam a vida. Não vivam a vida como os outros esperam de vocês. Não desperdicem oportunidades. Corram atrás dos seus devaneios juvenis enquanto se sentem jovens. Arrisquem! Ousem! Vivam!

Feliz Natal! Feliz Ano Novo!
(antes do final do ano, entre uma aventura e outra - ui - ainda apareço por aqui, se der...)

Quimio eterna quimio

Segunda-feira tive mais uma sessão de quimio. Ando de saco cheio desse processo todo e enlouqueço ao pensar que minhas atuais perspectivas são de que isso seja eterno com intervalos de em média 3 meses a um ano! Imagina, 3 meses, mal termino de fazer os exames de reestadiamento e, pronto, toma quimio novamente! (obs: se for assim, não vou sair nunca do estágio probatório. Ah, é, pra quem ainda não sabe, no meio dessa confusão que se chama vida, passei para área administrativa da UERJ!)

Na minha última consulta, a médica disse que a gente terminaria esses 2 ciclos e faria os exames pra saber se continua nessa fórmula ou se usamos outra. Fiquei revoltada! Hein?! Como assim? E a minha pausa? E a minha vida?! "Calma, também pode ser que façamos uma pausa..." "Ok, então não me provoca a fúria, tá?", pensei. Ela me deixa super insegura com esses comentários. Todas as vezes que ela jogou esses verdes, ela sabia muito bem do que estava falando, mas não queria liberar a verdade antecipadamente pra mim.

Então meu mau humor ficou tão grande, fiquei tão revoltada com a possibilidade de continuar nesse tratamento sofrido, nesse pileque sem fim (e pior, sem "cachaça"), nessa fraqueza, zonzeira... que nem consegui falar tudo que precisava. A consulta ficou pela metade. Ela marcou o retorno e eu nem vi a data.

Quando finalmente eu vi a data -  3 de janeiro*! - não entendi nada. Será que a médica viajou completamente ou resolveu me dar uma trégua? Na dúvida, decidi conversar com ela. Parece que, em função dos feriados de final de ano, eles estão com dificuldade de agendamento. Eu no fundo acho que ela quis me dar uma pausa maior, porque minha imunidade está muito baixa. Do ciclo passado para esse também tive mais de uma semana de intervalo e, mesmo assim, meus leucócitos estavam no limite.

Bem, vou aproveitar para curtir essas férias merecidas e rezar pra haver um milagre, uma revolução científica, qualquer coisa que me deixe aproveitar a vida com um pouco mais de tranquilidade!

*3 de janeiro é a próxima consulta, mas antes disso volto ao hospital para mais uma sessão de quimio, a última do ano.